EXTERMÍNIO DE REPRESENTANTES POLÍTICOS

30 04 2009

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Por Celestina Fontoura

 

A imagem política do Brasil possui várias faces em que a corrupção, a má administração do dinheiro público e a desigualdade na distribuição de renda se consolidam pela forma que o país tem ao tratar à sua população. Atualmente os próprios políticos sofrem de mais uma face da qual o Brasil se apresenta: os crimes políticos.

Principalmente no interior e nas regiões norte e nordeste brasileiro, um ponto crítico de crime político nos casos mais graves é o extermínio de seus representantes. Nos municípios, os prefeitos são assassinados barbaramente por pistoleiros de aluguel contratados por adversários. Além dos prefeitos, também os vices-prefeitos, vereadores, secretários são vítimas desse extermínio que acontece por desavenças entre candidatos partidários.

 

No Maranhão, estado com maior número de prefeitos assassinados, o caso é assustador. Nos últimos anos três prefeitos: João Henrique Leocádio Borges (de Buriti Bravo, 10/03/2005), Raimundo Bartolomeu Santos (de Presidente Vargas, 07/03/07) e Hilter Alves Costa (do município Ribamar Fiquene, 16/07/07) foram mortos nos início de seus mandatos trazendo ao estado maranhense uma estatística alarmante.

Outros estados brasileiros também sofrem com extermínio de políticos, em 13 de março de 2009 no estado do Rio de Janeiro, o prefeito Renato Costa de Mello de Guapimirim foi assassinado. E o problema não para por aí, se estende também à Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Norte, Paraná, Alagoas, Mato Grosso e São Paulo. Apesar de pouca repercussão por parte da mídia, em São Paulo, o caso de maior opinião pública foi o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel.

 

Prefeito eleito pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Celso Daniel foi morto no dia 20 de janeiro de 2002, após ser seqüestrado, dois dias antes quando saía de uma churrascaria em São Paulo. Com 50 anos na época, Celso Daniel teria sido eleito, pela segunda vez prefeito de Santo André e foi assassinado com 11 tiros em circunstancias pouco esclarecidas em que envolve o alto escalão da política brasileira. A família disse que o crime de Celso Daniel, teve motivação política e descartou que naquela ocasião o prefeito teria sido morto por engano.

Segundo o seu irmão, João Francisco Daniel, “o prefeito foi assassinado porque tinha um dossiê sobre corrupção na prefeitura de Santo André”, mas para a polícia de São Paulo o prefeito foi vítima de um sequestro por engano. Depois da morte do prefeito de Santo André foram ainda assassinadas outras pessoas relacionadas ao caso em situações suspeitas.

 

Quando um político é morto, seja ele de qualquer mandato , a primeira hipótese a ser considerada é de crime político, pois estes quando comprometidos com interesses públicos, políticos e até mesmo denúncias, se tornam alvos diretos da violência e infelizmente para muitos a investigação policial não consegue ser concluída por falta de provas.

Um exemplo a se destacar também foi o extermínio do então vereador de Sergipe, Carlos Alberto Oliveira do Partido Verde (PV). Em setembro de 2001, segundo testemunhas, o vereador teria denunciado o esquema de trabalho infantil nas lavouras de laranja no centro-sul do estado e acusado também a corrupção de outros políticos. Como conseqüência o vereador foi morto a tiros. Fazendeiros da região foram investigados , mas o inquérito policial não foi concluído.

Com uma lista de políticos sendo modificada todos os anos, seja para transferir os nomes dos ameaçados para a listagem de vítimas ou para introduzir novos casos de ameaças, a violência continua desenfreada e um motivo para a impunidade é a demora na conclusão dos crimes.

 

livro

 

O extermínio de políticos traz fatos discutidos há longos anos e gera uma polêmica em torno da sociedade brasileira: a falta de segurança e a violência. Um tema abordado no livro Plantados no Chão (junho de 2007), traz a reflexão de crimes cometidos através da pistolagem e consequentemente como acabar com este tipo de violência através de campanha que fora iniciada nos anos 80.

  O livro denuncia com indignação os mais de 180 casos de militantes políticos mortos nos últimos 4 anos- durante o governo Lula –  por causa de suas convicções. Mas uma realidade explicita é que crimes políticos não são exclusivos somente do atual governo. Cita-se o caso de Francisco Alves Mendes em que o Brasil e o Mundo tomaram consciência de ações de pistoleiros. Assassinado em 1988, Chico Mendes – como era conhecido – se destacava na luta pela preservação da floresta Amazônica. Com isso, passou a incomodar os donos de terra, que mandaram exterminá-lo.

 

Embora os “acertos de contas” sejam resolvidos de maneira brutal, o extermínio de representantes políticos assusta pela demanda que é atingida. O acontecimento de fatos pode ser diferente quanto aos personagens, mas na semelhança histórica continua sendo a mesma desde antigamente até os dias atuais.

Isso serve para expor ao país que não se pode “fechar os olhos” e nem se orgulhar de um problema que se arrasta há décadas, não havendo assim justiça para a maioria dos casos. Ao permitir o extermínio desses representantes,a justiça deixa de se fazer valer, permitindo ainda a impunidade e a ameaça constante às vítimas que lutam por ideais ou representam um grupo.

As histórias e seus desfechos de prefeitos,vice-prefeitos, vereadores, militantes políticos que foram assassinados nos últimos anos acarretam ao Brasil mais uma estatística triste de violência, conflitos e mortes que atingem uma sociedade que espera incessantemente por uma democracia que não seja decidida a tiros.


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